segunda-feira, março 05, 2007

Poema efémero.

Trago nas minhas mãos o fardo da efemeridade
Os instantes escorrem por entre os dedos dormentes como maresias selvagens e estrangeiras
Já soube como erguer os braços e suster a respiração, mas isso era no tempo dos meus lírios
Agora, olho para os minutos sem lucidez
Para mim, todas as coisas estão mortas

Num relance, capturo o meu silêncio e amarro-lhe as mãos geladas
E ele senta-se placidamente no meu colo, fitando-me com os seus olhos indizíveis de fado
Ah, ser todos os meus silêncios enquanto primo desesperadamente o gatilho

Na verdade, procuro apenas uma resposta
Estou farto dos mesmos monólogos entediantes e repetitivos
A minha vida tornou-se limão
Esventro-me de dentro da escuridão das vozes para mergulhar na escuridão do tempo
Condenado a desaguar na nascente salgada do Oceano das ideias
Desmaterializar o mundo será talvez insignificante perante a desconstrução implacável do ser
Só encontro sossego dentro de uma semente, deitado à terra com a indiferença alienada do agora
Só aí posso germinar lentamente em suaves prestações livres de juros
Alheando-me momentaneamente da maratona fútil do dia-a-dia
Quero-me agora

Vá, lança-me ao mar e perde-me nas ondas do mistério
A verdadeira vida é secreta e reservada
O palco deixou de ser um desafio para mim
Agora, quero perder-me nos bastidores e sentir-me estúpido na minha inadaptação
Vou experimentar pela primeira vez o sabor da verdadeira mágoa
Não daquela encenada e interpretada tão talentosamente durante a peça, mas sim a dor real e verdadeiramente sóbria

Acho que está na altura
Mais um degrau e torno-me livre
Já está



20/09/2006
03:40