quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Glosas.

Testemunhas incompletas,
De curvas oficiosas,
Tangem odes circunspectas
Nas nossas almas rochosas.

I
Interjeição que se afoita
Por capricho delicado;
Um falsete inacabado
Que na calçada pernoita;
A tempestade que açoita,
Na sinapse dos poetas,
Circunferências secretas
De contextos vanguardistas,
Compõe na voz dos fadistas
Testemunhas incompletas.

II
Véu de tecido vincado
Que encobre ternos ditongos,
Disciplinados e longos
Dedos que pintam no fado
Cores "vizinhas do lado"
Entumescidas, vaidosas,
Colinas silenciosas
De onde a melodia emana
Numa geometria plana
De curvas oficiosas.

III
Indiferente se deita,
Todo livre de embaraços,
No calor dos seus abraços
De concepção imperfeita;
Um rodízio que se enfeita
De sensações indiscretas,
Um concílio de profetas
Com insinuações voláteis
Que, nas suas prosas tácteis,
Tangem odes circunspectas.

IV
Ilimitada ternura,
Transparente à ousadia,
Alheada à cobardia,
Percorre o tempo e perdura;
Requinte, amor e frescura
Em miscelâneas jocosas
De relíquias preciosas,
Pétalas párias, apenas
Desvendam-se almas serenas
Nas nossas almas rochosas.

11/02/2009
2:30

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Ensaio.

Divagação processual, em código binário,
Renderizada sem pixelagem amorfa num volume incendiado,
E o colimador regulado para máxima difracção.
Estamos, portanto, a postos para digerir o horizonte, colapso de sedimentos,
E o cadinho precipita-se entre dois espaços ortogonais,
Rumores de uma singularidade que se extingue enquanto nasce.
As tabelas prontificam-se a dar respostas de incerteza,
E os diagramas vomitam sempre os mesmos corolários,
Mas a viagem que se experimenta a cada expressão caótica do substrato é sedutora;
Enverga no regaço um sustenido improvável,
Que galanteia o intelecto numa dança perpétua e extasiante,
Todas as danças fossem no corpo como um colóide imaterial de existencialismo,
E a superfície diferencial do nosso colectivo, desintegrada,
Ressurgiria sem nome.

Agora fotocopia este livro,
Massifica os provérbios originais num qualquer palco apoteótico,
Assola o chão de todas as vidas com a sua dúvida miriápode,
Goza de um breve rasgão no esgar envelhecido da tua estática:
Em breve, entropia e utopia serão de novo o teu tumulto,
E a queda roubar-te-á o pouco sono que te resta nas noites foragidas,
Incestuosas,
Das nossas fronteiras.

11/02/2009
20:42

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Plêiade.

Doem-me os olhos de tanto rir sem gargalhadas.
Parece até que os ímpios laivos de congruência
Na minha ausência de languidez comportamental
Se delineiam obliquamente numa lousa informe,
Tomando formas,
Escassez de salmos jucundos que alijem a própria consternação de me ser.
Na dor se aglomeram artificiosos bramidos,
Veleidades a que o grémio da objectividade se consente,
Urdidas em mérulas roucas deslembradas do seu tão patente crime de anacronismo.

O padecimento é, em qualquer género, inadequado,
Um maquinismo tosco que infama a cada diligência singular a compleição magistral,
Sustentáculo do real, plêiade de intenções,
Que por Todo-Poderoso designamos.

Sobeja, enfim, um vestígio de sobriedade,
Mas ministre-se o cálice transbordante do capricho,
E ei-la a dissolver-se, quase irreversível, na frívola teimosia do conforto.

10/02/2009
02:36

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Fractal.

Desdobro em mil o mundo que me encerra
Em palavras que rangem de cansaço;
Na minha mão semeio a nova guerra
Para colher co'a outra o novo abraço.

De cáusticas imagens me alimento
Miragens que se amontoam p'lo chão,
Que as dádivas de outrora, pelo vento
Trazidas e levadas sempre são.

Canto ao luar um fado murmurante,
Enlutado repique desse sino,
No campanário do meu ser errante,
Na dimensão fractal do meu destino.

28/01/2009
05:27