segunda-feira, agosto 06, 2007

Pára.

Sinto à flor da pele um chamamento,
Elevado rumor de prenúncios infaustos,
Chama esmorecida, aragem lúgubre...
E uma bala de reduzido calibre com que estudo a balística da existência
A galopar impaciente um carreiro longínquo,
Convencida de uma ingénua audácia enquanto não alcança o muro,
As minhas lágrimas.

Graves, retorquindo em estrondos inócuos, voam morteiros
E os canhões são mais uma vez carregados de pólvora seca.

É uma guerra já perdida, esta de saber existir.
Caem os anjos na Terra, de asas amputadas, e sorriem,
Clamando entre dentes a sua desfeita quimera de alcançar a realidade.

Sinto um chamamento, uma mão que se estende do fundo do tempo,
Os longos e esguios dedos arranhando a minha consciência
Imperturbáveis.
E o arco-íris volta a nascer no interstício da candeia de alumia o meu choro,
Com as cores desorganizadas,
As tonalidades esbatidas,
E sem o famigerado pote de ouro no cobro da sua extensão.

(Na era nuclear, as guerras não se fazem com homens,
Mas com iminências de destruição maciça.)

Alguém dispara uma flecha, como que a disparar a própria morte,
E depois pousa relutantemente o arco e dorme mais uma sesta.

Jurei que atenderia ao chamamento.
Era o mínimo que podia fazer.
Deixei que o meu santuátio fosse violado,
Entreguei a mente à desilusão,
E prostrei-me diante Deus.

"Pára."

06/08/2007
2:18

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