domingo, abril 13, 2008

Tour onírica.

Os sonhos são avessos da memória,
Acessos restritos de imaculada gnose,
Vencidos pelas frestas de uma persiana mal afamada.
Quando se sonha,
Conquista-se o passado e desvenda-se o futuro,
Multiplicam-se imagens e episódios,
E soletra-se de cor a mitologia do ser:
Anjos caídos e messias ressurrectos.

Nos sonhos, é-se livre de embaraços,
Mas prisioneiro de conceitos e desejos,
Numa tragicomédia ao estilo clássico escrita num papiro em combustão;
Sente-se o que não se sente só pelo hábito de sentir,
E julga-se compreender ou abdica-se do intento.

Na verdade, não há verdades:
Há impressões de concreto,
Enciclopédias cheias de palavras,
E uma mente programada
Hiperactiva
Para o desassossego.

Quando sonhares,
Sonha encoberto...

13/04/2008
00:20

sábado, abril 12, 2008

Sinais.

Túnicas desembrulhadas para revelar um desconhecido imperfeito,
Célula de memória,
Empalhada na inocência de querer.
Enleada na trama do meu fracasso.
Céptico, invariavelmente cobarde,
Insolente nos meus caprichos,
A sombra de um animal na parede branca de um quarto despido.
Diligências forjadas em metais frígidos,
Sopa de trevos e cicutas,
Estevas húmidas que empecilham a sucessão dos eventos,
Claridade nos espaços, sonolência nas intrigas.

A escotilha é nebulosa, enfadonha,
Mas o banquete está servido,
Os candelabros afugentam o incómodo da escuridão,
Dormências inflamadas,
Purga da minha infâmia.
Esquiva de si mesma, a mesma míriade de açucenas que crepitam ao luar,
E o demiurgo que acalenta o pleonasmo da existência que se esconde no ruído.
Estáctica quintessencial de virtudes decepcionadas,
Rebeldia na tormenta de um abraço,
E mais um sonho que tomba às mãos litúrgicas de uma Excalibur.

“Inherit your destiny,
But give away your solitude.
Ambush me behind the walls,
Catch me taking a little peek,
And then just let me there to exist.
Now crawl, shout and do as is meant:
There’s no escape now…”


12/04/2008
5:18

segunda-feira, abril 07, 2008

Oração.

Oh poetisa, que embalas
O berço dos teus segredos,
Só no silêncio tu falas,
Papel e tinta nos dedos.

Oh musa, que alma penada
Transportas dentro do peito:
Soldado numa cruzada;
Palavras com que me deito.

Oh deusa, que o mês de Maio,
Floresce sem continência
No teu olhar de soslaio,
Na tua impura inocência.

Clarão de vida e beleza,
Réstia alentada de graça;
O desejo, incerteza
Que o teu poema me traça.

06/04/2008
19:35

domingo, abril 06, 2008

Silêncio.

A linguagem é movediça,
Como as areias do sentimento, subestimadas
Esmeraldas de fartura ramificada,
Mas rígida e inconstante:
Éter na garganta e nos ouvidos,
Dinamite no carrossel do intelecto.

Quando a palavra que brota
Entende a sua derrota
E se recolhe aturdida,
A voz apanha-se em falta
E o belo torna à ribalta
Na deiscência da vida.

06/04/2008
5:33

sábado, abril 05, 2008

X

O que procuro não me encontra.
Pudera eu murmurar na rouquidão desta noite,
E as palavras seriam templos a Morfeu,
Maremotos imperfeitos,
Dunas de Éolo, Mar de Egeu,
A chama olímpica derramada no passadiço…
E um mundo inteiro para acordar nos meus sentidos,
Uma janela inclinada sobre Cronos,
Sentinela e farol e nevoeiro.
Risco lívido, ruborescente,
Um mantra tisnado de negro.
Lençóis de linho e fronha de espinhos…

Troveja a noite, esta mesma, a mesma noite,
Possessa por ser possessa,
Possante, sem se deixar possuír…
Trova de amor e cosmética,
Trapo da loiça, farrapo,
A gravata e as seroulas.

Trago o teu nome por escrever,
A tutelagem perscreve,
Mas o laço é perene.

Trocava a vida por um beijo;
Mas porque sei que não me encontras,
Que tão descaradamente te escondes,
Troco-a somente por vida.

05/04/2008
5:51

sexta-feira, abril 04, 2008

Quadra II

A fogueira da loucura
Quero esta noite saltar,
Mas se há fogo que perdura
É este incêndio no olhar…

04/04/2008
22:53

quarta-feira, abril 02, 2008

Passerelle.

As estâncias com que me visto
São eternas preconceituosas,
Mordazes lonas, fazendas justas,
Tecidas com a paisagem do nosso sanatório;
Uma penugem ridícula,
De aparência imberbe e descabida,
Vaticínio de fracasso,
Desabrida torrente dos vilões e dos heróis.

(Pelo cocharro da minha avó bebia em tempos água cristalina...
Agora,
Uma garrafa de um qualquer polímero artificial despeja
Fel na minha garganta.
Rio.)

Vestimo-nos todos os dias de príncipes e de ogres,
Escondendo a nudeza,
Zéfiro de milagres,
Que é nossa própria irrealidade.

(O relâmpago,
Contrariamente ao que se pensa,
Costuma escalar a atmosfera em direcção à abóbada nublada.
Aquele, caiu no meu quintal,
Onde planto a salsa e o cannabis.)

Vale a pena revirar destroços,
Esgravatar os escombros,
Estigmatizar o infortúnio dos sem nome,
Quando o Sol se levanta todos os dias do mesmo modo...?

02/03/2008
12:28

terça-feira, abril 01, 2008

Simple question.

If simple minds have simple thoughts,
Might simple hearts have simple feelings...?

31/03/2008
2:02