domingo, outubro 18, 2015

De olhos fechados

Olhos abertos, sou trégua;
Olhos fechados, clamor;
Os meus olhos são a régua
Com que meço a minha dor.

De olhos abertos eu vejo
Que há dores em toda a gente;
Fechados são de sobejo
As que o meu coração sente.

Mas não vou de olhos desertos
Consumido em amarguras;
Trago os olhos bem abertos,
Evito andar às escuras.

Só quando à noite, fechados
No silêncio que reclamam
É que os meus olhos cansados
Suas lágrimas derramam.

18/10/2015
20:01

sexta-feira, outubro 16, 2015

A Memória de Outros Dias

A memória de outros dias
Não me deixa sossegar
Em porquês e todavias
Já me cansa o recordar

Porquê, palavra, punhal
Se no seu eco se esconde
Entre soluços e sal
O todavia responde

Responde-me, e todavia
É com mais porquês que fala
Nem o porquê me sacia
Nem todavia me embala

A vida é paz provisória
E o presente uma miragem
Outro dia, outra memória
Nesta agridoce viagem

16/10/2015
12:18

sexta-feira, janeiro 30, 2015

Camuflagem

Não são sábias as palavras que digo
Nem se afiguram de rara beleza;
Palavras sem sabor e sem certeza
Nascidas dos vãos dias que mastigo;

Palavras com que o silêncio castigo
Em sílabas que entoo com rudeza;
Não são senão de mim mesmo a fraqueza
Sem nada além de mim trazer consigo.

É própria das palavras esta essência
De usar cada qual a sua linguagem
Ainda que aparentem coerência...

Uma sofisticada camuflagem
Perante a solidão da existência
Que dela nos esconde entre a folhagem.

30/01/2015
11:03