sábado, novembro 13, 2010

Biografia do Sonho.

Rosa perdida
No branco inverno
Do meu caderno
Vadio
Folha caída
Atribulada
Amarrotada
Ao frio

Pétala solta
Na ventania
Que rasga o dia
Ao meio
Sombra revolta
De um ser bravio
Que de vazio
É cheio

Vozes em coro
Entoam hinos
São pequeninos
Os sons
Olhos de choro
Seguem de perto
O rumo incerto
Dos tons

Fonte da vida
Quero beber-te
E conhecer-te
A dor
A dor despida
Que fere a gente
Constantemente
Amor

05/11/2010
2:37

quarta-feira, novembro 10, 2010

Inventário.

Quero rasgar em segredo
O tecido das vontades,
A fina seda do medo,
A lã das minhas verdades.

Quero inventar a cidade
Como invento os meus lamentos;
Só não invento a saudade:
Que o façam chuvas e ventos.

Quero perder-me contigo
No compasso da descrença,
Nos acasos do perigo,
Nas certezas da presença.

Quero achar-me diluído
Na poesia do sono:
Sonhar o tempo perdido,
Roubar o tempo sem dono.

Quero-me, assim, paralelo
Ao meu amor singular,
Que ao chão deste meu castelo
Sou já perpendicular.

22/10/2010
19:58

sábado, novembro 06, 2010

Alquimista.

Quis inventar o perfume dos deuses.
Lembrei-me de ti... à noite...
Isolei-te a essência e destilei-a,
Fraccionada em pequenos tragos da paixão
Que me guia a mão trémula
Na épica química do teu cheiro preso
À almofada.

A reacção foi efusiva:
Houve corrosão das placas de Petri
Em que te cristalizava a alma;
Novelos de fumo púrpura humedeceram-me os olhos
E sufocaram-me em soluços.
A violência do acto revelou-se
No resíduo turvo que do teu sopro restou.

Relatório experimental:
Fracasso!
O espírito rejeita extracção.

(Nota: manter o lume brando da próxima vez...)

04/11/2010
20:04

sexta-feira, novembro 05, 2010

Essay no. 1

A faceless man stares at the ruins of his own soul, shattered around a timeless vacuum.
"How can you live for half a century and feel like you've never lived a day at all?" That's the only question he could think about.
And then he saw a light.
The final light that could mean a start of an eternal memory. Maybe we can always think... What's next?
The clueless mind wanders and wonders... the world's wonders all in a glimpse of the eye that shatters the world with its empty gaze.
Why don't we manage to see the greatness of this life in every single thing we do? Why don't we manage to see the wonders of things before we lose them in most of the cases?
Because if we would, we could not continue to search for the happiness.
Happiness is the holy moment and the main god of mankind.
Let us, then, praise Him in all His glory and magnificence; let us embrace His gifts and affection; for only those who seek the truth are bound to find His bliss.

30/10/2010


(Com a estimada colaboração de Vanessa Marques, Chiara Ramberti e Catrina Capraro.)

Amor à margem.

É da margem dos conceitos que provém
Este amor que, em dimensão, tanto ultrapassa
Os limites do temor e da desgraça
E as fronteiras da virtude que contém;

De aparência, assume o que lhe convém
De tal forma que o próprio tempo estilhaça:
É um véu feito de sonhos que me abraça
Num convite para abraçar outro alguém.

É dos confins da memória que me espreita,
Dessa dimensão profunda que me habita
E que o peito tanto estica como estreita;

Como a deusa que os seus súbditos visita
Reduzindo a sua condição perfeita
À ilusão tosca de uma alma aflita.

24/10/2010
17:53