segunda-feira, dezembro 06, 2010

Onirocrisia pelo Onirismo.

Quando, de olhos fechados, acordo nos meus sonhos,
Sei-me vivo.
Depois, os olhos abrem-se.
Acordo dos meus sonhos e a dúvida instala-se,
Como uma diva,
Nos luxuosos aposentos que erigiu na minha mente.

É depois de abrir os olhos que o verdadeiro sonho começa,
E tu só queres fechá-los de novo...
Eu
Só quero fechá-los...

Por que não me encontro sem ser às escuras?
Por que há-de a luz encandear-me de sonhos que não são os meus?
Serei eu um ser das trevas solto na chama do mundo,
Condenado a buscar, na escuridão,
A sombra que me embalava quando,
Há muito tempo,
Me construía no ventre cansado de um deus indemovível,
Em interminável contemplação da variedade de espécies,
Os rostos da sua presumida completude
E as armadilhas iminentes do ciclo fechado com que se realimenta de propósito?

E quando, por fim, torno a fechar os olhos,
Mostro-me a mim mesmo no espelho deformado do particular,
Enquanto ao reflexo se misturam, por vontade própria,
Fragmentos do sortido da imponderabilidade
A que chamamos vida.
No fundo, acordo apenas para tornar a adormecer,
Reiterando a alma e o cosmos
À medida do meu quinhão de vivência,
Do que experimento da extensão indizível do ser.

06/12/2010
16:31

domingo, dezembro 05, 2010

Cronografia.

Em cada minuto
A avareza do tempo faz-se notar
Sob a forma de incómodos zumbidos
Que se assomam do relógio circadiano,
Dessas varandas arruinadas das rotinas,
O som primordial repetido sem saliva
Vezes que, a conta, não se permitem,
Banal tornado, mas não menos áspero,
Pelo timbre inquieto de um grito
Paralelo à alma e, ao mesmo tempo,
Paralelo ao tempo que embala o corpo
Na dança dos dias, embriagado
Do mito de acordar.

02/12/2010
8:11