Nada descreve melhor os meandros pantanosos da linguagem como as tenazes monstruosas com que componho a lareira dos meus pensamentos, que ardem e se reduzem, não sem antes crocitarem em estalidos inconstantes o sufoco que é morrer ainda antes de ter entreaberto os olhos desfocados, a um punhado de cinzas mornas, que mais tarde se tornarão frias por via da termodinâmica tosca com que, no final, exalo uma palavra tímida, um pincelada grotesca, uma nota dissonante, ou apenas o olhar meigo de quem se ama e se despede. Afinal, todo o final tem um começo, e toda a origem um destino, sendo que, em última análise, ambos se confundem e entrelaçam num marulhar rarefeito entre uns instantes prévios e outros que ainda pairam nas inconcebíveis marés do céu, firmamento. E a verdade é que, com tudo isto, a manhã se faz tardia, a alvorada se faz ocaso, e todas as vénias e bocejos e contorções desoladas que povoam os humanos cometem suicídio. Com tantas palavras ditas, outras escritas, e algumas apenas sonhadas, ou desenhadas em papel onírico, vou acabar de calcetar esta avenida, para que as ideias circulem sem tropeções nem acidentes de percurso, num corropio que é inteiro, visceral e inconcusso.
19/12/2008
5:22
quinta-feira, janeiro 08, 2009
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