sexta-feira, novembro 29, 2013

Arco-Íris


Se os sonhos são matéria insípida
Com que entretenho a mente exausta,
Porque acordam os olhos cinzentos
E tudo lhes parece um eco?

A realidade é límpida
Apenas enquanto dorme
E a cinza dos olhos se torna,
Na escuridão, arco-íris.

18/12/2012
14:23

quinta-feira, julho 11, 2013

Tique-taque.


Quantas horas se derramam
Dos olhos em vãos intentos?
Escravas em tantos momentos,
Choram, riem, gritam, clamam

Que algozes as martirizam
Com desvairadas torturas;
Doces artes, horas duras,
Que ora afagam, ora as pisam?

Que crimes trazem consigo
As horas desalinhadas;
Que culpas lhes são cobradas
Neste implacável castigo?

Horas não, vidas inteiras
Ao sabor do que as transcende.
Se alguma coisa se aprende
São já horas derradeiras.

Ingénuas ou libertinas,
Caprichosas ou prudentes,
Das mais horas penitentes
Sobram templos em ruínas.

10/07/2013
13:50

terça-feira, junho 18, 2013

Fado Calado


Quando calado medito
No que sou, no que é a vida;
Águas serenas agito
E, em vendaval, nasce um grito
Da minh'alma anoitecida.

Se penso só, sem paixão,
No tempo que nos condena...
Silêncio! Meu coração,
Silêncio! Rogo-te em vão;
Não há calar tanta pena.

Pena de mim quando o peito
Galopa medo e revolta;
Um sobressalto insuspeito,
A pena com que me deito
Do que já foi e não volta.

Solta-se então esse brado
Dos nós da minha garganta
E canto mesmo calado,
Não sou eu que canto o fado,
É a saudade que canta.

06/06/2013
11:06