Quando estiver farto de enxergar
E as pupilas se contraírem diante de um Sol consumido,
Com as minhas próprias mãos arrancarei os olhos,
À vista assim negando o seu deleite nos horizontes.
Cansado de todo o ruído,
Farei dos tímpanos peneiras sangrentas,
E a surdez entoará elegias ao canto morno das sereias.
Quando os meus pés forem apenas mais uns pés,
Que aqui repousam e ali caminham
E a lado nenhum se encaminham,
Que abrem feridas na terra e sulcam chagas inúteis nas solas,
Quando esses pés me atrasarem,
Deles farei repasto para algum antropófago indigente,
E das pernas pedigree para bestas,
E dos joelhos ração para o gado,
E das coxas, bem...
Das coxas farei torresmos.
Resta-me um tronco, com ramos e folhas,
Amarelecidas e caducas mas ainda folhas,
E não mais capaz de movimentar-me,
Resigno-me numa espera cega,
Numa surda emboscada,
Por uma ventania de Outono que mas arraste pelos ares,
Que me dispa o castanho rugoso desses apenas enfeites.
Afinal de contas, ainda não é Natal...
Falta pelo menos um mês,
E antecipar tais veleidades é simplesmente idiota.
Depois vem uma brisa,
Vai uma folha,
Vem uma aragem,
Vai outra folha,
E em poucos assaltos tudo o que me resta de nada me serve.
Nem tão pouco o arrependimento...
Que faço com ele agora?
Mais vale acabar com isto.
26/02/2010
9:34
sexta-feira, fevereiro 26, 2010
terça-feira, fevereiro 02, 2010
Metadiegese.
Escrever é haurir o bafo panteísta impregnado nas palavras,
A libação da alma incasta,
Que se presta à descoberta no planisfério turvo da existência
De uma forma incipiente de amar.
Os dedos coordenam a torrente que lhes chega
Amotinada e sem contorno
Da esfera inconscienciosa, útero de linhas curvas
De genealogia promíscua e bizarra,
Emaranhada de sílabas trôpegas e inascíveis por mero capricho;
É preciso moldar o barro em bruto do pensamento,
Conferir-lhe inteligibilidade e soprar-lhe a vida directamente nos pulmões,
Mapear-lhe a estrada sinuosa, provê-lo de alimento,
E ensinar-lhe os silêncios de que se pontua,
Olaria no frenesim da gestação.
Escrever é projectar o templo da novidade,
Regar a sede dos desassossegados,
A derrota da legislação universal, regicídio
Na decorrência das epopeias do ser por refinar.
O trono é devolvido ao justo ocupante
Que de espectador se assume divindade, força motriz,
Propulsor a jacto na atmosfera rarefeita da beleza.
Mas escrever acerca do escrever,
Ponderar as anfibologias alquímicas do literato, sem litígio,
E palpar o corpo obsceno da locução
No estudo embriológico do esboço,
É louca prova da natureza reflexa que nos ocupa,
Que possui o corpo que cremos pertencer-nos...
Rendo-me à subtil evidência de que sou eu dentro de mim,
E dentro de mim,
São as palavras,
Que me veneram com ídolos de ouro fundido e sacrifícios de sangue,
Que me operam profético e transcendente.
Sem mim,
Sem elas,
Seria apenas a vã caverna do eterno que está para vir.
02/02/2010
6:19
A libação da alma incasta,
Que se presta à descoberta no planisfério turvo da existência
De uma forma incipiente de amar.
Os dedos coordenam a torrente que lhes chega
Amotinada e sem contorno
Da esfera inconscienciosa, útero de linhas curvas
De genealogia promíscua e bizarra,
Emaranhada de sílabas trôpegas e inascíveis por mero capricho;
É preciso moldar o barro em bruto do pensamento,
Conferir-lhe inteligibilidade e soprar-lhe a vida directamente nos pulmões,
Mapear-lhe a estrada sinuosa, provê-lo de alimento,
E ensinar-lhe os silêncios de que se pontua,
Olaria no frenesim da gestação.
Escrever é projectar o templo da novidade,
Regar a sede dos desassossegados,
A derrota da legislação universal, regicídio
Na decorrência das epopeias do ser por refinar.
O trono é devolvido ao justo ocupante
Que de espectador se assume divindade, força motriz,
Propulsor a jacto na atmosfera rarefeita da beleza.
Mas escrever acerca do escrever,
Ponderar as anfibologias alquímicas do literato, sem litígio,
E palpar o corpo obsceno da locução
No estudo embriológico do esboço,
É louca prova da natureza reflexa que nos ocupa,
Que possui o corpo que cremos pertencer-nos...
Rendo-me à subtil evidência de que sou eu dentro de mim,
E dentro de mim,
São as palavras,
Que me veneram com ídolos de ouro fundido e sacrifícios de sangue,
Que me operam profético e transcendente.
Sem mim,
Sem elas,
Seria apenas a vã caverna do eterno que está para vir.
02/02/2010
6:19
Clamor.
Não gastes os nomes na languidez amorfa da esperança
Nem roubes à idade o delírio colectivo,
Alvoroço de sensações que te navega as veias
E que te inunda as polpas da malícia crédula de emendas
Talhadas em toros incorpóreos de madeiras obsolescentes,
Tanto as emendas como as polpas.
Não te vendas no mercado dos vulgares,
O respeito próprio penhorado pelas primícias de uma lavoura
Que se sustenta do estrume que o espelho te indicia,
Sensualidade e lascívia servidas na mesma macilenta bandeja
E um copo de veneno que se entorna,
Lívido na devoção dos seus sorumbáticos fiéis,
Sobre uma refeição de estulta ostentação que se havia
De matar a fome aos indigentes,
Sufoca, de obesidade mórbida, o egotismo do mundo.
Não sejas mais do que te coube, nem menos,
Não corras atrás de miragens, esvoaça,
Nem te acorrentes à obra diabólica, mais vale a heresia
De ser quimérico, poeta em noite de facas longas,
O manifesto anti-mim, a denúncia do nosso eu,
Ergue o estandarte em chamas e exclama:
"Obriga-me à grei que extorques, lucra, faz-me teu servo.
Ou morre a tentar!"
02/02/2010
2:53
Nem roubes à idade o delírio colectivo,
Alvoroço de sensações que te navega as veias
E que te inunda as polpas da malícia crédula de emendas
Talhadas em toros incorpóreos de madeiras obsolescentes,
Tanto as emendas como as polpas.
Não te vendas no mercado dos vulgares,
O respeito próprio penhorado pelas primícias de uma lavoura
Que se sustenta do estrume que o espelho te indicia,
Sensualidade e lascívia servidas na mesma macilenta bandeja
E um copo de veneno que se entorna,
Lívido na devoção dos seus sorumbáticos fiéis,
Sobre uma refeição de estulta ostentação que se havia
De matar a fome aos indigentes,
Sufoca, de obesidade mórbida, o egotismo do mundo.
Não sejas mais do que te coube, nem menos,
Não corras atrás de miragens, esvoaça,
Nem te acorrentes à obra diabólica, mais vale a heresia
De ser quimérico, poeta em noite de facas longas,
O manifesto anti-mim, a denúncia do nosso eu,
Ergue o estandarte em chamas e exclama:
"Obriga-me à grei que extorques, lucra, faz-me teu servo.
Ou morre a tentar!"
02/02/2010
2:53
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