quarta-feira, fevereiro 24, 2016

Tenha ou não tenha razão.

Mote
Há quem fale à boca cheia
P'ra fazer opinião
De tudo quanto o rodeia
Tenha ou não tenha razão.

I
Quando pequeno escutava
O velho, o rapaz e o burro,
Quadras simples que em sussurro
A minha avó me contava,
Depois de ouvi-las, pensava
Na gente que papagueia
E julgando a vida alheia
Muito fala e pouco diz;
Tanta sentença infeliz,
Há quem fale à boca cheia.

II
Já muita gente o tem dito
De várias formas dif'rentes;
Há quem o diga entre dentes
E quem o clame num grito.
E por isso não hesito
Em repetir o chavão,
Pois qualquer ocasião
Que o assunto me suscite
É para mim um convite
P'ra fazer opinião.

III
Se alguém me diz que obedece
Ao que outros possam dizer,
Que vai deixar de fazer
Por isso o que lhe apetece,
Pois que se acaso o fizesse
E a sentença que receia
Andasse por tuta-e-meia
Nas bocas todas do mundo,
Não fora medo, no fundo,
De tudo quanto o rodeia?

IV
É que ter medo é saudável
Na conta, peso e medida,
E não ter medo da vida
Que alguém julga censurável.
Falar mal é deplorável,
É tacanhez sem visão
E afirmo com prontidão
Que tamanha mesquinhice
Não passa de parvoíce
Tenha ou não tenha razão.



Epílogo
Não faças caso, portanto,
Do que os outros te critiquem;
Não fiques tu no teu canto
Melindrado, eles que fiquem.

24/02/2016
14:48

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