quinta-feira, março 07, 2019

O Princípio da Incerteza

Que bizarra a natureza
Quando vista ao pormenor
Nesse delírio suspenso
Entre ser-se e não se ser
O princípio de incerteza
Sempre nos leva a melhor
No seu real contra-senso
De se saber sem saber

Parece contradição
Esta essência indefinida
Que nos deixa a duvidar
Da nossa própria contenda
E às vezes esta impressão
De qualquer coisa escondida
Na espuma que o nosso olhar
De silício não desvenda

Já dizia o Heisenberg
Que o olhar tudo transmuta
E o real não é igual
Ao que pensámos que vimos
Esta razão que nos ergue
Das sombras da nossa gruta
Também nos mostra afinal
Que nunca de lá saímos

06/03/2019
17:52

domingo, março 03, 2019

A outra vida

 Mote

Quem sabe se noutra vida
A vida fora dif'rente?
Se apenas nesta se lida
Que dif'rença faz à gente?


Glosas
 
Não há dúvida maior
Na vida que nós vivemos:
Que é de nós quando morremos?
Vamos desta p'ra melhor?
Nunca nada ao meu redor
Me deu resposta devida.
Haverá ou não guarida
Do outro lado da morte?
Fico na mesma, sem sorte...
Quem sabe se noutra vida...?

Ninguém sabe o que isto é,
O mistério que interrogo.
Somos nascidos e logo
Já nós andamos de pé;
Rapidamente um bebé
Faz-se belo adolescente;
Para adulto, é um repente
E a velhice já lhe espreita.
Talvez na terra perfeita
A vida fora diferente.

Muito se diz por aí
Sobre este caso bicudo,
Eu cá duvido de tudo
Pois foi assim que aprendi.
Mais vidas não conheci,
Nem sei que seja sabida
Alguma vida escondida
Depois que a gente é defunta.
De que me serve a pergunta
Se apenas nesta se lida?

Muito nos interrogamos
Sobre o que está mais além
Será porque não convém
Olhar p'ra vida em que andamos?
Afinal onde é que estamos?
Que fazemos do presente?
Deve ser-se consciente
Da estrada que se percorre,
Que enquanto a gente não morre
Que dif'rença faz à gente?

23/02/2018
00:47

sábado, março 02, 2019

Jardim de Saudade

Estes versos que hoje canto
São saudades em botão.
No jardim do desencanto,
Todos os versos que planto
São rebentos da paixão.

São penas que remanescem,
Dissabores que ato em molhos;
Mágoas que brotam e crescem,
Fazem-se versos, florescem,
Regados pelos meus olhos.

São lembranças que, a cantar,
Transplanto pela raiz,
De outro tempo, outro lugar,
De outro jardim tão vulgar
Onde o fado não me quis.

Por isso canto e me vejo
Neste jardim de saudade,
Onde as flores que versejo
São botões do meu desejo
De ser jardim sem idade.

25/02/2019
18:03