«Algures no Mar do Norte, 6 de Fevereiro de 2004
Querida Elisa.
Já mal posso suportar os gritos estridentes das gaivotas e a ondulação incessante do mar. Na minha mente, existe apenas um propósito: regressar o mais depressa possível para o nosso leito e beijar-te como se não houvesse amanhã. O meu espírito martiriza-se ao recordar-se de que só no fim do mês nos poderemos reencontrar. Sinto-me traído por Deus, por permitir que dois corações tão enamorados se separem desta maneira.
A pescaria tem vindo a diminuir. Ontem já só apanhámos 400kg de bacalhau e 500kg de atum. O mar mostra-se-nos ingrato, e um dos motores avariou irreversivelmente. Cada içar das redes, cada congelar das postas já cortadas, enfim, cada momento que passo neste maldito barco me faz delirar. Só penso em ti, de manhã até à noite, e até em sonhos a tua imagem surge como um escape à rotina diária.
O Chico Rosa vai-se embora hoje, e é por ele que envio esta carta. Ele, sim, é que tem sorte… Não passou senão três meses neste barco, enquanto que eu há já quase um ano que não vejo as tuas doces feições. Sonho a cada segundo com a tarde do dia 29, quando o barco ancorar no porto, e eu correr desalmadamente para os teus braços, e te amar como nunca. Já só vejo o teu sorriso brilhante, os teus lábios rubros, os teus olhos luzidios e o teu calor reconfortante. Para mim, és tudo o que importa…
O contramestre já deu a ordem… Tenho que ir içar as redes mais uma vez. Vingar-me-ei de todo o tempo perdido durante o resto das nossas vidas, amando-te sem limites ou barreiras.
Amo-te louca e profundamente!
Beijos e abraços deste teu,
Jorge Morais »
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