sexta-feira, dezembro 28, 2007

Palavras minhas e tuas...

As palavras que não digo,
Di-las o meu olhar franco;
São como versos em branco,
São duas mãos de um mendigo.

São palavras exclamadas
No rumor dessa presença;
São, no fundo, a recompensa
De tantas noites roubadas.

No perfil do meu desejo
Restam palavras de enleio,
E brotam brados de anseio
P'la maravilha de um beijo.

28/12/2007
22:15

sábado, dezembro 22, 2007

Turbilhão de ideias...

As ideias são como um turbilhão de água e espuma,
Só que mais difusas,
Menos palpáveis,
Esquivas até de si mesmas.
São como esse turbilhão que o mar anuncia ao mover-se,
Rotina atrás de rotina,
Num momento em que duas rotinas previsíveis se intercalam de um solavanco,
Brusco,
Que eleva a espuma como a mente se confunde de cinzas,
Não por ter ardido,
Simplesmente por ter sonhado dominar turbilhão como o das ideias.

Só eu.
Mas eu não conto...

21/28/2007
21:28

domingo, dezembro 16, 2007

Sonhar contigo...

Sonho
Esvaír-me sem solenidades desta textura matizada,
Padrão enraizado das efemérides da paixão.

Iminência de explosivo,
Autocarro armadilhado na praça do meu instinto...

A inexpugnável demência de possuir a virtude de sonhar
Todas as libertinas alvoradas
Ao lado da tua cativante presença.

16/12/2007
18:37

sábado, dezembro 15, 2007

Entrelaçados.

Sentir-te é sentir o infinito,
Teia visceral de movimentos perpétuos,
Voláteis aromas de ocasos sublimados,
E a redundância irrepetível e inebriante da eternidade.

Quantas manhãs serão precisas para atingir a omnisciência?

sábado, dezembro 08, 2007

Confissões...

O que tu és em mim
É seres brisa quando eu sou braseiro,
Qual fole que levanta labaredas do que antes não passava do cadáver duma fogueira…
O que tu és de mim
É a vontade de chegar ao outro lado da vontade,
Silogismo eloquente de parquíssimo conteúdo,
Afinal bulício inquieto de um inquieto fascínio.
O que tu és comigo,
Duas galáxias em colisão,
Um buraco negro que é refúgio das nossas fragrâncias,
E a imensidão do tempo que é morada de segredos…
O que eu sou sem ti
É o sopro da madrugada e a solidão de uma água-furtada,
Que nem Deus ousa perturbar quem tão fremente espera,
E a densidade não palpável da saudade que se multiplica…
O que eu e tu somos,
Dois universos tangentes,
Dois fragmentos de alma,
Duas sedes, dois vagares,
Mas uma, uma só viagem…

27/11/2007
1:03

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Drips and drops...

Drips and drops,
Clefs and staves and crotchets of emptiness,
An inconspicuous nothing from where the miracle emerges.
Listening carefully to the admirable lyricism of the phenomenon,
Whose richness and virtue are intangible as the language itself,
My thoughts dwell through alien idioms and conspiracy theories,
Through those other miracle we call mysterious,
Only to find the intricate roar of the namelessness,
And to drown inevitably in an anonym matter of singular consistency.

The slumbers of my brain are not allowed to descry the indivisible unit of thought,
That quantum of information that plays hide and seek with my discernment.
Tragedy is, alas, the form and content of the human intellect,
Bounded to an eternal pursuit which can never reach a single checkpoint,
Disgraceful is the human nature that seeks its very questions to unknowable answers.

Drips and drops are the subtle and almost indistinguishable flashes of consciousness we so rarely experience,
Running off a dead end tube made out from mathematics and sexual arousal.
It’s just like an ethereal arpeggio,
One we can imagine, conceive and plan
(Even smell or taste)
But never bring to existence,
Chained forever to a latent reality,
Perhaps beyond a black hole or a mirrored surface.

I hear echoes below the depths of the mind,
But they must be just a bunch of kids fooling around my frustration…

03/12/2007
4:20

domingo, dezembro 02, 2007

Sempre...

Todos os dias sou profano
Todas as noites sãos meus dias
Todas as horas, desengano
Todas as horas, heresias

Todos os dias sou secreto
Todos os meses, vagabundo
Todas as horas, chão e tecto
Todas as horas num segundo

Todos os dias, foragido
Todos os anos, inconstante
Todas as horas sem sentido
Todas as horas, um instante

Todos os dias sou um fim
Todos os séculos, poeira
Todas as horas são de mim
Todas as horas sem fronteira

Todos os dias sou miragem
Todas as eras sem medida
Todas as horas, a coragem
Todas as horas, uma vida

19/10/2007
3:52

sábado, dezembro 01, 2007

Tenho a mente em obras...

Tenho a mente em obras…

Ontem,
(ou hoje, que o ontem só existe enquanto é hoje)
Um edifício centenário
(apesar de nem ter uma vintena de existência)
Na movimentada praça
(pelo menos nos dias úteis)
Do meu cérebro
(quantas sinapses ainda me restarão?)
Ameaçou ruir
(apesar de ilusório, o tempo sempre vai deixando a sua marca)
Irremediavelmente,
(ainda que, em boa sabedoria popular, só a morte não tenha remédio)
Pelo que a equipa de especialistas
(talvez um ou dois recém-licenciados de dúbia competência)
Prontamente avaliou o risco de derrocada
(o quê?)
E deitou mãos à obra,
(outro parêntese, outra pedra que resvala do seu pousio)
Numa tentativa desesperada de remediar
(não a morte, por certo)
Aquilo que era já sabido de antemão:
(o oráculo de Bellini faz milagres)
Tudo acaba por se desvanecer às mãos inexoráveis de Saturno,
(ou Cronos, se em grego arcaico preferirmos exprimir-nos)
E nem a sagrada mão do divino
(a mesma mão que, afinal, cria e destrói)
Poderia salvar aquelas quatro paredes,
(ainda hei-de ter uma casa oval)
Entregues à sua demanda última pelos trilhos da realidade.
(haja quem ainda guarde esperança no divino)

Tudo isto para contextualizar,
Que não seja inusitado este discurso,
O alvoroço que agora povoa os meus pensamentos.
O certo,
Por mais incerto,
É que tenho a mente em obras…

18/10/2007
5:29