quinta-feira, janeiro 14, 2010

Pressentimento.

Trevas no meu pensamento
De cores vestidas,
Roubadas ao firmamento
Que as pintou à mão
Nas telas desimpedidas
Da nossa incauta paixão;
Tecem nas malhas do amor
Nós que não desatam
Envolvidos no torpor
Das esperas frias,
São navalhadas que matam
À nascença novos dias.

Como a voz desajeitada
Que derramo, e o peito ardente,
À noitinha, p'la calada,
De manhã, ao sol bem quente,
Perdido em toda a chegada,
Chegado num corpo ausente
Que de tanto se fez nada
No seu canto penitente.

Pensamento circular
Às voltas na mão,
Se esta paixão se acabar,
Se me acaba a dor,
Ficarei eu neste chão,
Rogarei em teu favor;
Pois se acaso me liberto,
Desta vez não vou
Dar-te o amor como certo,
Desta vez recuso
Dar aquilo que eu não sou,
Ser uma roca sem fuso.

Como história repetida,
Embrulhada, emaranhada
Numa teia mal tecida,
Uma história mal contada,
Numa palavra vencida,
Numa boca derrotada,
Na batalha destemida,
No gesto da derrocada,
Na palavra concedida,
Na palavra torturada,
Em palavras dito a vida
À vida despedaçada,
No estertor da despedida,
No deserto da calçada,
Na fogueira desmedida
A palavra incinerada,
Em cinzas feita e vivida,
Fogueira enfim apagada.

14/01/2010
8:20

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