Regresso, ainda antes da aurora, à concha frágil que me serve
De refúgio.
Venho do desfile carnavalesco, quotidiano, implausível
Dos afazeres;
Da espuma decrépita da nossa agitação caótica,
Patética,
Frenética de todos os nortes, sequiosa.
Regresso com música nos ouvidos e correntes ao pescoço,
Refém das escolhas tomadas e dos desejos renegados,
Baluarte dos afugentados, estandarte dos esquecidos
Prefeitos de uma ousadia emergente,
Incidente mas não acidente,
A transcendência do destino nas palmas suadas de um menino.
Regresso de olhos postos no horizonte,
Montanha intransponível de tempos que se baralham,
Confusa sobreposição de curvas vizinhas,
Trajectória maleável de resultado sublime,
O brilho do olhar reflectido na memória e difundido no sono,
Caravela para o depois, coche do entretanto ao tão longínquo,
Viajem onírica mas não menos verídica.
Regresso com pena do que deixo para ontem,
Assustado com esta impaciente forma de desconhecer o inevitável,
Obstáculo involuntário à ambivalência do determinismo,
Talvez até inimigo do Universo,
Ou apenas cidadão de alma estrangeira na metrópole cósmica,
Motor da diáspora enlouquecida do esclarecimento,
Ou engrenagem ferrugenta no mecanismo da Criação.
Regresso à origem,
Despojado, embora pleno, dual.
Arrasto comigo a história inteira,
Precedente mal assimilado, procedente intangível,
Perdido neste limbo virtual, litúrgico,
Eu, apenas, sem nome nem idade, absorto no vazio de que emano.
E depois, torno a partir…
Basta ir,
O resto é retórica.
Mas não ir como quem fica:
Renunciar ao perecível e abalar sem constrangimentos,
Dormir à luz das estrelas como se delas me enamorasse,
Percorrer caminhos de bestas como se neles repousassem
Raízes e alicerces,
E abraçar o frio da noite como se fosse mãe dos meus sonhos,
Beijar os raios de sol como se nele residisse o espírito que me guia,
E amar.
21/01/2010
2:57
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