Quando estiver farto de enxergar
E as pupilas se contraírem diante de um Sol consumido,
Com as minhas próprias mãos arrancarei os olhos,
À vista assim negando o seu deleite nos horizontes.
Cansado de todo o ruído,
Farei dos tímpanos peneiras sangrentas,
E a surdez entoará elegias ao canto morno das sereias.
Quando os meus pés forem apenas mais uns pés,
Que aqui repousam e ali caminham
E a lado nenhum se encaminham,
Que abrem feridas na terra e sulcam chagas inúteis nas solas,
Quando esses pés me atrasarem,
Deles farei repasto para algum antropófago indigente,
E das pernas pedigree para bestas,
E dos joelhos ração para o gado,
E das coxas, bem...
Das coxas farei torresmos.
Resta-me um tronco, com ramos e folhas,
Amarelecidas e caducas mas ainda folhas,
E não mais capaz de movimentar-me,
Resigno-me numa espera cega,
Numa surda emboscada,
Por uma ventania de Outono que mas arraste pelos ares,
Que me dispa o castanho rugoso desses apenas enfeites.
Afinal de contas, ainda não é Natal...
Falta pelo menos um mês,
E antecipar tais veleidades é simplesmente idiota.
Depois vem uma brisa,
Vai uma folha,
Vem uma aragem,
Vai outra folha,
E em poucos assaltos tudo o que me resta de nada me serve.
Nem tão pouco o arrependimento...
Que faço com ele agora?
Mais vale acabar com isto.
26/02/2010
9:34
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1 comentário:
Fazes pontes.
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