segunda-feira, março 01, 2010

Machado de Guerra.

Tenho um machado de guerra forjado em fogo fátuo,
Resplandecente dos furores que me não deixam dormir,
Faca de mato que desarvora os sentidos,
Sabre de luz que afasta o bréu dos pensamentos.

Tenho um machado de guerra que assola mundos,
Uns fronteiriços, outros longínquos, alguns sonhados,
E do meu berço leva o sonho,
Dobra o destino
Nos seus clangores como acordes dissonantes.

Tenho um machado de guerra destemido e petulante,
Ávido das seivas viscosas que derrama,
Sangue que ferve na veia e se sublima na lâmina
Em fumarolas sulfurosas, incandescentes,
O vulcanismo da alma, a tectónica do ser.

Tenho um machado manchado da guerra,
Com cicatrizes antigas e feridas ainda abertas,
E nas suas faces, tatuado em golpes impiedosos,
Lê-se a epopeia grotesca dos dias que me precedem,
E adivinha-se,
Tantas vezes com malícia,
As noites de vigília que os versos em branco acalentam.

Tenho um machado que já foi de guerra,
Gasto em disputas frívolas, em bandeiras só de pano,
Sem dimensão,
E em campanhas de meias verdades que parasitam o meu juízo.
Escavo-lhe honroso sepulcro,
E ao lançar-lhe o último punhado de terra árida,
Enterrado o meu estertor errático, um batalhão inteiro desmantelado,
Vejo o reflexo dos meus olhos na laje polida,
E pela primeira vez reconheço-me.

Tive um machado de guerra.
Agora tenho-me a mim.

01/03/2010
15:52

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