Deixa escorrer a areia chão das ampulhetas,
Rede que enleia o esvoaçar das borboletas,
E pelas frestas, pontas soltas no destino,
Trocam-se as voltas do seu rigor peregrino.
Faz dos buracos auto-estradas de vontade
Nas trovoadas do desejo em liberdade,
Comete o crime original de ser apenas
Essencial na espuma das coisas pequenas.
Traz na bagagem todo o verde da esperança,
Mar que se perde num horizonte que avança
E tisna os dias da brancura do sorriso
Que acende a boca em melodias de improviso.
Deixa o relógio na parede e faz-te à vida
Que a sede aguarda os rios da terra prometida;
Virá quem ouse içar a vela ao desafio
E navegar contra a corrente em novo rio.
Desata o tempo e corta amarras que as gaivotas,
Co'as suas danças, farão garras tão remotas;
Segue-se a margem inventada dos futuros
Numa parada de corações em apuros.
Dá-me uma mão, de mão em mão se asfalta o sonho;
Na mão que falta entrego a mão com que transponho
A solidão que em vez de fogo se faz vento
Que espalha sementes no chão do sentimento.
Deixa que as horas sejam horas verdadeiras,
Horas que beijam nos lábios, horas inteiras,
E que essas horas façam rir às gargalhadas
Todas as horas que hão-de vir nas horas dadas.
04/03/2010
16:31
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