Levo comigo o precipício da memória
De que me abeiro para olhar o meu reflexo
Mas vejo apenas uma sombra aleatória
Deste boneco articulado e desconexo.
Estico o baraço que me verga ao titereiro
Co'a força hercúlea das palavras mercenárias
Que andam na boca de quem se sabe carneiro
E vai matando a fome em direcções contrárias.
Desfaz-se um nó, mas estes nós são carne humana
Que, em sendo aberta, logo a fenda cicatriza:
Assim, se acaso um nó desfeito é p'la catana
Logo outros dois hábil polícia improvisa.
É, pois, ingrata esta emancipação da besta
Do jugo eterno das ilusões do zagal;
Com seu cajado, o gado guia e admoesta
Nas catacumbas do pecado original.
28/09/2010
17:39
terça-feira, setembro 28, 2010
segunda-feira, setembro 27, 2010
Cirurgia Expiatória.
Falta-me o ar nesta sala
Que cheia é de ilusões;
Oiço a voz, voz que me embala,
Que ora canta, ora me fala
Do bulício das paixões.
Estremece o crânio cansado
Dos suspiros que me vestem
Do luto negro e pesado,
Da marca do condenado,
Sem mais perdões que o contestem.
Mata-me a sede à fadiga
De ser sempre testemunha
De um passado que mitiga
E que afasta a mão amiga,
Que me dói e me estremunha.
Dá-me a palavra "perdão"
Enquanto há tempo e vontade
De erguer de novo a razão,
De olhar nos olhos a mão
Que me castiga a idade.
27/09/2010
17:22
Que cheia é de ilusões;
Oiço a voz, voz que me embala,
Que ora canta, ora me fala
Do bulício das paixões.
Estremece o crânio cansado
Dos suspiros que me vestem
Do luto negro e pesado,
Da marca do condenado,
Sem mais perdões que o contestem.
Mata-me a sede à fadiga
De ser sempre testemunha
De um passado que mitiga
E que afasta a mão amiga,
Que me dói e me estremunha.
Dá-me a palavra "perdão"
Enquanto há tempo e vontade
De erguer de novo a razão,
De olhar nos olhos a mão
Que me castiga a idade.
27/09/2010
17:22
quarta-feira, setembro 08, 2010
Piloto Automático.
Há que ajustar a lente à medida do olho míope
Para que a debandada do horizonte seja contida:
Logo à partida, chegada.
Esticas os braços ocos da madrugada para amarfanhar o tempo,
Mas quebram-se as unhas sem que se enterrem na fibra da alma,
No núcleo líquido das horas libertinas,
No fogo fátuo da divinação que paira sobre os cadáveres como os abutres.
Lanças ao vento as vozes roucas da loucura,
As poucas que ainda te restam, as que não te foram roubadas,
Aquelas escassas sílabas que te expurgam do corpo o gosto insípido,
Da sensaboria dos dias que a gente fotocopia de noite
Para tomar, de manhãzinha, ao pequeno-almoço:
Suplemento pro-biótico, dietético, apocalíptico,
Com piloto automático e apoio técnico 24 horas por dia, 7 dias por semana,
Não vá a coisa dar para o torto,
Uma carruagem que descarrila e lá se quebra a faiança toda.
Que desperdício...
08/09/2010
12:17
Para que a debandada do horizonte seja contida:
Logo à partida, chegada.
Esticas os braços ocos da madrugada para amarfanhar o tempo,
Mas quebram-se as unhas sem que se enterrem na fibra da alma,
No núcleo líquido das horas libertinas,
No fogo fátuo da divinação que paira sobre os cadáveres como os abutres.
Lanças ao vento as vozes roucas da loucura,
As poucas que ainda te restam, as que não te foram roubadas,
Aquelas escassas sílabas que te expurgam do corpo o gosto insípido,
Da sensaboria dos dias que a gente fotocopia de noite
Para tomar, de manhãzinha, ao pequeno-almoço:
Suplemento pro-biótico, dietético, apocalíptico,
Com piloto automático e apoio técnico 24 horas por dia, 7 dias por semana,
Não vá a coisa dar para o torto,
Uma carruagem que descarrila e lá se quebra a faiança toda.
Que desperdício...
08/09/2010
12:17
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