quinta-feira, novembro 22, 2007

O corredor da morte.

Frestas de luz desvendam um caminho sinuoso.
Vêm do postigo que alguém compassivo cuidou de entreabrir,
Algum foragido morador ou apenas a ventania zelosa.
Em passos cautelosos, embrenho-me na escuridão do corredor,
Frio, inóspito, vazio…
A mão, que se aquecia no bolso, apalpa agora as rugosas paredes,
Guiando na sombra os olhos que a não podem ver.
A humidade resvala pelas arestas,
E embora a treva não permita que se enxergue,
O tecto é um tapete esverdeado de musgo já sem idade.

Um fugaz relâmpago oferece o mais imperceptível lampejo da passagem:
Duas paredes rigorosamente paralelas cujo término fica para além do alcance da vista;
Um tecto abaulado que, agora sim, se verifica coberto de verde carapinha;
E uma quase irreal extensão de chão tosco que se encaminha em direcção a nada.

Cada passo é uma gota de suor que me escorre pela testa,
E a cada passo, inexprimível consternação, tenho que recordar-me do meu propósito.
‘Já falta pouco’, minto a mim próprio,
Os lábios tremendo de sede e de ansiedade.
‘Vai valer a pena’, insisto em convencer-me,
As pernas cansadas da caminhada.
‘Nada se faz sem esforço’, torno a dizer,
Mas a mente é agora um local inabitável.

Tombam os joelhos sobre o implacável pavimento,
As mãos agarram os cabelos,
E os cotovelos erguidos soltam clamores que a voz já não consegue.
Do último relâmpago, já só se ouviu o estrondo do trovão,
Diluída a sua parca luminosidade pela bruma inescrutável,
Afinal única residente naquele lugar maldito.

O cenário é agora um turbilhão de sufocante opacidade;
Afinal, é apenas a visão que se turva e dá forma àquilo que não pode auscultar,
Dois olhos vidrados na inalcançável recompensa,
Lágrimas que se perfilam nas faces geladas,
E esta endemoninhada vontade de que tudo termine ainda antes de ter começado.
‘É hora’, julgo ouvir num murmúrio,
Pouco mais do que uma aragem, estreita, vacilante.
Involuntariamente, estou novamente erguido,
Mas já não caminho:
Corro, galopo, voo para o indelével derradeiro,
Para essa, afinal, tão ansiada vitória,
Essa meta que é unicamente minha, só de mim, exclusiva…

Ao fundo do corredor da morte,
Estende-se uma estrada de vida,
Ainda que intangível,
Viva.

20/11/2007
18:56

Sem comentários: