quinta-feira, maio 21, 2009

Palavreado.

Se há palavras que me enganam,
Outras há p’ra me embalar,
Mas há delas que me esganam
Sem que me possam cegar.

Há palavras moderadas,
E outras crivadas de esporas,
E há palavras bem pensadas,
Ditas bem a tempo e horas.

Há palavras tão cinzentas,
E outras tão cheias de cor,
Que até me esqueço das bentas
Palavras do meu Senhor.

E nem penso nas mais rudes,
Naquelas palavras ocas
Que julgam cantar virtudes
De vozes apenas roucas.

Tanta palavra erudita
Já me cansa. Todo o dia,
Muita palavra não dita
Melhor proveito teria.

Valem mais palavras duras
Do que palavras mesquinhas,
Que arrombam as fechaduras
De tantas portas vizinhas.

Mas se palavras abraço,
São as que fazem sorrir,
Daquelas que no regaço
Se aninham para florir.

E das palavras mais mansas
Rebenta pelas costuras
O Inferno das lembranças,
E o Paraíso às escuras.

Com tanto palavreado,
Tanha manha e tanta lábia,
Aqui me sento e aguardo
Por uma palavra sábia.

21/05/2009
18:18

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