segunda-feira, junho 15, 2009

Absolvição.

Sou parteiro de enjeitadas desilusões,
Mais um espécime adúltero de um todo oco
Que se transvia acalentando os furacões,
Temíveis ventos, zéfiros do meu sufoco.

Sou regicida proscrito no próprio berço,
Um corpo apátrida enredado de si mesmo
Que se percorre nas fúteis contas de um terço
Urdido à força de um decaimento a esmo.

Sou desertor de tão deserto que me tenho,
Velho vigário de um meu eu desfalecido,
Retrato tosco e esborratado que desenho
Com o meu modo de me manter preterido.

Sou cidadela de muralhas reforçadas
Que entrecortadas entre as rochas se eternizam;
Não sabe a gente que estas almas muralhadas
Não menos penam co'as dores que as infernizam.

Sou labirinto erigido sem fundações
Que resvala sobre as areias movediças
De um coração que não conhece outras razões
Que os corações de tantas incertas premissas.

Sou todo o tempo que se arrasta em cepticismo,
Um mero sopro plagiado impunemente
Às incontáveis virtudes que, nesse abismo
Vertem os mortos-vivos deste eternamente...

15/06/2009
12:38

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