Poetas não são o mar
Nem ondas nem temporais,
Poetas são espuma que fica por cima de tudo o que agita...
Nas suas palavras vãs
Os ventos que sopram mais
São ventos de fora mas sopram por dentro da mágica escrita.
Feitiços de luz e de cores, das dores que à mão
Dão corda e dão traços e pintam, desenham na folha sinais
Dos tais artifícios, condão dos indícios, inícios finais.
Poetas não vão ao mar
Como se um rio por nascer
Quisesse brotar sem ferir, sem escorrer p'ra não transbordar
E as suas palavras são
O vento que os faz mover
Nas horas despertas da sede dos tempos que estão p'ra chegar.
Apaga o relógio e os dias na página dois...
Depois da promessa, tropeça no limbo das cordas vocais,
Que os livros abertos são corpos desertos, incertos rivais.
Poetas ao mar no chão,
Palavras são sempre iguais...
Parecem ao longe que são singulares mas são tão banais.
15/11/2016
16:48
domingo, novembro 27, 2016
sexta-feira, novembro 25, 2016
Exílio
Não sei se estar sozinho me ilumina
E me faz ver as coisas como são,
Se o silêncio revela ao coração
Segredos que o tumulto não me ensina;
Ou se é de estar a sós que se alucina,
Se é disfarçadamente a solidão
Memória sem raiz, sem direcção,
Semente de uma fuga que germina...
Não sei se neste exílio me aprofundo
Ou me imerjo num mundo imaginário
E sou dos meus receios vagabundo...
Não sei se vejo as coisas ao contrário,
Se é de rara clareza que me inundo
Assim num estado de alma solitário.
25/11/2016
10:41
E me faz ver as coisas como são,
Se o silêncio revela ao coração
Segredos que o tumulto não me ensina;
Ou se é de estar a sós que se alucina,
Se é disfarçadamente a solidão
Memória sem raiz, sem direcção,
Semente de uma fuga que germina...
Não sei se neste exílio me aprofundo
Ou me imerjo num mundo imaginário
E sou dos meus receios vagabundo...
Não sei se vejo as coisas ao contrário,
Se é de rara clareza que me inundo
Assim num estado de alma solitário.
25/11/2016
10:41
terça-feira, novembro 22, 2016
Hora da Ceia
Que silêncio me acompanha
Na noite dos meus sentidos...
Não há lobos na montanha,
Já não oiço os seus latidos,
Não há fogueiras acesas
Nem cheiro de erva cidreira,
Só estas mãos indefesas
Perdidas numa algibeira.
Que escuridão me ilumina,
Que fome me dá sustento...
E a solidão imagina,
Desta noite o testamento:
Sou herdeiro de um futuro
Que a lua nova ensombreia,
Um pôr do ser prematuro
Antes da hora da ceia.
22/11/2016
20:46
Na noite dos meus sentidos...
Não há lobos na montanha,
Já não oiço os seus latidos,
Não há fogueiras acesas
Nem cheiro de erva cidreira,
Só estas mãos indefesas
Perdidas numa algibeira.
Que escuridão me ilumina,
Que fome me dá sustento...
E a solidão imagina,
Desta noite o testamento:
Sou herdeiro de um futuro
Que a lua nova ensombreia,
Um pôr do ser prematuro
Antes da hora da ceia.
22/11/2016
20:46
terça-feira, novembro 15, 2016
Fogo, Chuva, Vento
Arde o fogo, queima a terra
Renova-se o chão p'ra tornar a nascer...
Chove a chuva, molha a cinza,
Refresca-se a terra e volta-se a crescer...
Ventam ventos, são lamentos
Levantando o pó das coisas que hão-de ser...
E eu sou fogo e chuva e vento,
Sou eu a ventar, a chover e a arder.
Cruzo mares e desertos,
Tão longe e tão perto de ali me encontrar...
Perco o rumo, encontro nortes
Ao sul desta sorte que teimo em buscar...
Leio mapas, leio a sina,
Sei as coordenadas mas não sei chegar...
Fico à espera doutro dia,
Sem chuva nem vento nem fogo a queimar.
Troca o vento pela brisa
Que afaga o meu rosto e me faz sentir
Que o calor do fogo às vezes
Conforta, acalenta, mostra-me aonde ir;
Chuva é fonte e mata a sede
Do meu horizonte para o atingir:
Chove a chuva, venta o vento,
Queima o fogo em mim p'ra tornar a partir.
05/11/2016
04:47
Renova-se o chão p'ra tornar a nascer...
Chove a chuva, molha a cinza,
Refresca-se a terra e volta-se a crescer...
Ventam ventos, são lamentos
Levantando o pó das coisas que hão-de ser...
E eu sou fogo e chuva e vento,
Sou eu a ventar, a chover e a arder.
Cruzo mares e desertos,
Tão longe e tão perto de ali me encontrar...
Perco o rumo, encontro nortes
Ao sul desta sorte que teimo em buscar...
Leio mapas, leio a sina,
Sei as coordenadas mas não sei chegar...
Fico à espera doutro dia,
Sem chuva nem vento nem fogo a queimar.
Troca o vento pela brisa
Que afaga o meu rosto e me faz sentir
Que o calor do fogo às vezes
Conforta, acalenta, mostra-me aonde ir;
Chuva é fonte e mata a sede
Do meu horizonte para o atingir:
Chove a chuva, venta o vento,
Queima o fogo em mim p'ra tornar a partir.
05/11/2016
04:47
sábado, novembro 05, 2016
Amo em qualquer lugar...
Via
Entre as coisas banais
Dos dias sempre iguais
Os sonhos que jamais
Poderiam nascer;
Dias
De eternos rituais
E repetidos ais
E gestos virtuais
Que nos querem dizer
Todo o tempo encalhado
Na promessa de acontecer.
Pasmam frente ao passado
As horas
De um futuro adiado
Agora,
Vida fora em cuidados
Que penhoram
Tantos dias parados
Em demoras.
Quero e não quero partir;
Vou mas não posso chegar,
Interminável a procurar
Existir
Sem me evitar:
Hoje vou cantar!
Não
Dizer adeus não vou,
Ainda não acabou
Esta canção que ousou
Acordar minha voz.
São
As notas vendavais,
Silêncios magistrais,
São bolas de cristal
Que nos mostram assim
O ser arrebatado
Na iminência feliz de um fim.
Voa o sonho sem ver
As horas
Num presente ancorado
Agora,
E a promessa de ser
P'la vida fora
Esta força, este brado
Sem demoras...
Quero e vou mesmo partir;
Vou ainda hoje chegar;
Sei por onde ir, é só mesmo andar.
Rir, chorar
De tanto amar
Em qualquer lugar.
Amo em qualquer lugar...
05/11/2016
12:58
Entre as coisas banais
Dos dias sempre iguais
Os sonhos que jamais
Poderiam nascer;
Dias
De eternos rituais
E repetidos ais
E gestos virtuais
Que nos querem dizer
Todo o tempo encalhado
Na promessa de acontecer.
Pasmam frente ao passado
As horas
De um futuro adiado
Agora,
Vida fora em cuidados
Que penhoram
Tantos dias parados
Em demoras.
Quero e não quero partir;
Vou mas não posso chegar,
Interminável a procurar
Existir
Sem me evitar:
Hoje vou cantar!
Não
Dizer adeus não vou,
Ainda não acabou
Esta canção que ousou
Acordar minha voz.
São
As notas vendavais,
Silêncios magistrais,
São bolas de cristal
Que nos mostram assim
O ser arrebatado
Na iminência feliz de um fim.
Voa o sonho sem ver
As horas
Num presente ancorado
Agora,
E a promessa de ser
P'la vida fora
Esta força, este brado
Sem demoras...
Quero e vou mesmo partir;
Vou ainda hoje chegar;
Sei por onde ir, é só mesmo andar.
Rir, chorar
De tanto amar
Em qualquer lugar.
Amo em qualquer lugar...
05/11/2016
12:58
Valsa dos Mal-Amados
Uma história curta
Feita muito à bruta
E sem nenhum zelo;
Um conto de fadas
Que em menos de nada
Vira um pesadelo;
As vidas à toa
De duas pessoas
Buscando sentido,
Toscas tentativas
Que as lança à deriva
P'lo tempo perdido.
Conheceram-se ontem
E, embora defrontem
Reiterados cios,
Já paixões abundam
E os dois aprofundam
Os seus desvarios,
Que a paixão é cega
Nessa cega-rega
De lençóis e lua;
Fazem às escuras
Impensadas juras
Pela noite nua.
Depois vem o dia
E o que foi magia
Perde o seu encanto;
Dúvidas assaltam
Defeitos se exaltam,
Parece quebranto...
Muita expectativa
Esgota-se lasciva
Na noite anterior...
Tanto que se espera
E afinal não era
Este o grande amor.
A fábula é clara
Quando a gente pára
P'ra pensar um pouco:
Tantas investidas,
Coisas repetidas,
São artes de um louco;
Que a solidão custa
E inovar assusta
Quem nunca tentou...
Vão às cabeçadas
Repetir, coitadas,
O erro que as tramou.
03/11/2016
15:47
Feita muito à bruta
E sem nenhum zelo;
Um conto de fadas
Que em menos de nada
Vira um pesadelo;
As vidas à toa
De duas pessoas
Buscando sentido,
Toscas tentativas
Que as lança à deriva
P'lo tempo perdido.
Conheceram-se ontem
E, embora defrontem
Reiterados cios,
Já paixões abundam
E os dois aprofundam
Os seus desvarios,
Que a paixão é cega
Nessa cega-rega
De lençóis e lua;
Fazem às escuras
Impensadas juras
Pela noite nua.
Depois vem o dia
E o que foi magia
Perde o seu encanto;
Dúvidas assaltam
Defeitos se exaltam,
Parece quebranto...
Muita expectativa
Esgota-se lasciva
Na noite anterior...
Tanto que se espera
E afinal não era
Este o grande amor.
A fábula é clara
Quando a gente pára
P'ra pensar um pouco:
Tantas investidas,
Coisas repetidas,
São artes de um louco;
Que a solidão custa
E inovar assusta
Quem nunca tentou...
Vão às cabeçadas
Repetir, coitadas,
O erro que as tramou.
03/11/2016
15:47
quinta-feira, novembro 03, 2016
Quadras ao Acaso
Não conheço outra vontade,
Outro desígnio maior;
Por mais que lute ou que brade
O acaso leva a melhor.
Mereci marés de sorte,
Cruzei azares à toa;
Não há destino mais forte
Quando o acaso atraiçoa.
Do mundo não me apodero
Que o mundo nunca foi nosso:
Tudo o que posso e não quero,
Tanto que eu quero não posso.
12/06/2016
14:41
Outro desígnio maior;
Por mais que lute ou que brade
O acaso leva a melhor.
Mereci marés de sorte,
Cruzei azares à toa;
Não há destino mais forte
Quando o acaso atraiçoa.
Do mundo não me apodero
Que o mundo nunca foi nosso:
Tudo o que posso e não quero,
Tanto que eu quero não posso.
12/06/2016
14:41
quarta-feira, junho 15, 2016
Remorso
Era um dia tão cinzento
Como outros dias de Outono
E o céu chorava de mágoas;
Era o eco de um lamento
De uns olhos ao abandono
Lavados nas suas águas.
As chicotadas do vento
Mal as sentia, irrisórias
Ante os remorsos da vida;
Torturas que em pensamento
Arrastam duras memórias
De uma alma arrependida.
Desse Outono era refém
E chorava por ter feito
Tanto mal no seu passado...
Não há sol para quem tem
Nos escombros do seu peito
Um coração tão pesado.
14/06/2016
15:25
Como outros dias de Outono
E o céu chorava de mágoas;
Era o eco de um lamento
De uns olhos ao abandono
Lavados nas suas águas.
As chicotadas do vento
Mal as sentia, irrisórias
Ante os remorsos da vida;
Torturas que em pensamento
Arrastam duras memórias
De uma alma arrependida.
Desse Outono era refém
E chorava por ter feito
Tanto mal no seu passado...
Não há sol para quem tem
Nos escombros do seu peito
Um coração tão pesado.
14/06/2016
15:25
terça-feira, abril 05, 2016
Encontrei-me hoje contigo
Encontrei-me hoje contigo
Num sonho que a noite trouxe
E o acordar foi castigo...
Tomara que assim não fosse.
Conversámos cara a cara
Completamente alheados
Do abismo que te separa
Dos meus olhos acordados.
Nem sequer nos despedimos
Como se nunca acabasse
E, quando os olhos abrimos,
O sonho não se fechasse.
Em sonhos não há distância,
Não há destino nem sorte,
E é eterna a nossa infância,
E é mentira a nossa morte.
05/04/2016
14:12
Num sonho que a noite trouxe
E o acordar foi castigo...
Tomara que assim não fosse.
Conversámos cara a cara
Completamente alheados
Do abismo que te separa
Dos meus olhos acordados.
Nem sequer nos despedimos
Como se nunca acabasse
E, quando os olhos abrimos,
O sonho não se fechasse.
Em sonhos não há distância,
Não há destino nem sorte,
E é eterna a nossa infância,
E é mentira a nossa morte.
05/04/2016
14:12
Capricho.
De vez em quando dá-me uma vontade
Imensa de escrever seja o que for;
Talvez eu tenha veia de escritor
Que quando pulsa o espírio me invade.
Não é que me incomode ou desagrade,
Só nem sempre me encontro ao seu dispor,
Mas se eu tento calar esse rumor
Com mais força o seu canto persuade.
De nada serve nada do que tento
E sei que no final me vou render
Àquele irresistível chamamento,
Que agora, se me apetece escrever,
O que eu tiver em mãos nesse momento
Já não importa e fica por fazer.
05/04/2016
01:38
Imensa de escrever seja o que for;
Talvez eu tenha veia de escritor
Que quando pulsa o espírio me invade.
Não é que me incomode ou desagrade,
Só nem sempre me encontro ao seu dispor,
Mas se eu tento calar esse rumor
Com mais força o seu canto persuade.
De nada serve nada do que tento
E sei que no final me vou render
Àquele irresistível chamamento,
Que agora, se me apetece escrever,
O que eu tiver em mãos nesse momento
Já não importa e fica por fazer.
05/04/2016
01:38
sexta-feira, março 04, 2016
Todos os nomes
Todos os nomes que usamos
Padecem do mesmo mal:
Quando ao dizê-los, criamos
O que julgamos real.
Toda a exp'riência remete
Para a palavra que a exprime,
E todo o nome comete
Ao nascer o mesmo crime.
Chamam-se nomes a tudo
Quanto o ser experimenta;
São nomes o conteúdo
Do mundo que assim se inventa.
Vemos, pensamos, sentimos,
Vivemos em abundância,
E aquilo que transmitimos
São nomes sem substância.
Nome nenhum compreende
O que pretende dizer;
Não há nome que desvende
A maravilha do ser.
Todos os nomes são ocos
Por muito que teorizem,
Os nomes são sempre poucos
Para o pouco que nos dizem.
04/03/2016
02:23
Padecem do mesmo mal:
Quando ao dizê-los, criamos
O que julgamos real.
Toda a exp'riência remete
Para a palavra que a exprime,
E todo o nome comete
Ao nascer o mesmo crime.
Chamam-se nomes a tudo
Quanto o ser experimenta;
São nomes o conteúdo
Do mundo que assim se inventa.
Vemos, pensamos, sentimos,
Vivemos em abundância,
E aquilo que transmitimos
São nomes sem substância.
Nome nenhum compreende
O que pretende dizer;
Não há nome que desvende
A maravilha do ser.
Todos os nomes são ocos
Por muito que teorizem,
Os nomes são sempre poucos
Para o pouco que nos dizem.
04/03/2016
02:23
segunda-feira, fevereiro 29, 2016
Nas asas de um sonho
Descansa meu irmão, não tenhas pressa,
Não consumas os dias num só trago...
Detém-te nas delongas de um afago,
No milagre de amor que o atravessa.
P'lo meio da vertigem, o langor...
Nos ímpetos de urgir, contemplação...
Não passes pela vida de raspão,
Que a vida devagar tem mais sabor.
Devolve a paz ao ser atribulado
Se houver quem nesse estado te defronte;
Por correr não se alcança o horizonte,
Só nas asas de um sonho demorado.
24/02/2016
18:56
Não consumas os dias num só trago...
Detém-te nas delongas de um afago,
No milagre de amor que o atravessa.
P'lo meio da vertigem, o langor...
Nos ímpetos de urgir, contemplação...
Não passes pela vida de raspão,
Que a vida devagar tem mais sabor.
Devolve a paz ao ser atribulado
Se houver quem nesse estado te defronte;
Por correr não se alcança o horizonte,
Só nas asas de um sonho demorado.
24/02/2016
18:56
sexta-feira, fevereiro 26, 2016
Canseira
Ai de mim que não consigo,
Desculpa, não sou capaz,
Mas não mereço o castigo
Tão grande que tu me dás.
Ai de mim que não consigo
Por vezes ser mais perfeito.
Bem vês como me afadigo,
Que ao teu gosto me sujeito.
Não é por falta de esmero,
Desculpa, não sou capaz
De ser tudo quanto quero
P'ra ser como mais te apraz.
Sei que te zangas comigo
Se acaso me tens em falta,
Mas não mereço o castigo
Que só mais me sobressalta.
Seria de outra maneira
Pudesse eu voltar atrás,
Mas não posso; ai que canseira
Tão grande que tu me dás.
26/02/2016
19:50
Desculpa, não sou capaz,
Mas não mereço o castigo
Tão grande que tu me dás.
Ai de mim que não consigo
Por vezes ser mais perfeito.
Bem vês como me afadigo,
Que ao teu gosto me sujeito.
Não é por falta de esmero,
Desculpa, não sou capaz
De ser tudo quanto quero
P'ra ser como mais te apraz.
Sei que te zangas comigo
Se acaso me tens em falta,
Mas não mereço o castigo
Que só mais me sobressalta.
Seria de outra maneira
Pudesse eu voltar atrás,
Mas não posso; ai que canseira
Tão grande que tu me dás.
26/02/2016
19:50
quinta-feira, fevereiro 25, 2016
As palavras que não disse
As palavras que não disse, sei-as bem;
Trago-as no peito guardadas, vil guarida.
Nunca assim me despedisse de ninguém
Com quem andei de mãos dadas pela vida.
Agitam-se em mim ao vento da saudade
As palavras que ficaram por dizer;
De nada vale o lamento que me invade.
O que os meus olhos choraram sem te ver...
Tomara que não sentisse tal tormento
Meu coração em que ecoa a omissão
Das palavras que só disse em pensamento,
Remorso que se amontoa pelo chão.
Se outra morada me espera, junto a ti,
Não tenho em mim a virtude de saber;
Dir-te-ia com voz sincera o que senti,
As palavras que não pude antes dizer.
24/02/2016
22:13
Trago-as no peito guardadas, vil guarida.
Nunca assim me despedisse de ninguém
Com quem andei de mãos dadas pela vida.
Agitam-se em mim ao vento da saudade
As palavras que ficaram por dizer;
De nada vale o lamento que me invade.
O que os meus olhos choraram sem te ver...
Tomara que não sentisse tal tormento
Meu coração em que ecoa a omissão
Das palavras que só disse em pensamento,
Remorso que se amontoa pelo chão.
Se outra morada me espera, junto a ti,
Não tenho em mim a virtude de saber;
Dir-te-ia com voz sincera o que senti,
As palavras que não pude antes dizer.
24/02/2016
22:13
quarta-feira, fevereiro 24, 2016
Tenha ou não tenha razão.
Mote
Há quem fale à boca cheia
P'ra fazer opinião
De tudo quanto o rodeia
Tenha ou não tenha razão.
I
Quando pequeno escutava
O velho, o rapaz e o burro,
Quadras simples que em sussurro
A minha avó me contava,
Depois de ouvi-las, pensava
Na gente que papagueia
E julgando a vida alheia
Muito fala e pouco diz;
Tanta sentença infeliz,
Há quem fale à boca cheia.
II
Já muita gente o tem dito
De várias formas dif'rentes;
Há quem o diga entre dentes
E quem o clame num grito.
E por isso não hesito
Em repetir o chavão,
Pois qualquer ocasião
Que o assunto me suscite
É para mim um convite
P'ra fazer opinião.
III
Se alguém me diz que obedece
Ao que outros possam dizer,
Que vai deixar de fazer
Por isso o que lhe apetece,
Pois que se acaso o fizesse
E a sentença que receia
Andasse por tuta-e-meia
Nas bocas todas do mundo,
Não fora medo, no fundo,
De tudo quanto o rodeia?
IV
É que ter medo é saudável
Na conta, peso e medida,
E não ter medo da vida
Que alguém julga censurável.
Falar mal é deplorável,
É tacanhez sem visão
E afirmo com prontidão
Que tamanha mesquinhice
Não passa de parvoíce
Tenha ou não tenha razão.
Epílogo
Não faças caso, portanto,
Do que os outros te critiquem;
Não fiques tu no teu canto
Melindrado, eles que fiquem.
24/02/2016
14:48
Há quem fale à boca cheia
P'ra fazer opinião
De tudo quanto o rodeia
Tenha ou não tenha razão.
I
Quando pequeno escutava
O velho, o rapaz e o burro,
Quadras simples que em sussurro
A minha avó me contava,
Depois de ouvi-las, pensava
Na gente que papagueia
E julgando a vida alheia
Muito fala e pouco diz;
Tanta sentença infeliz,
Há quem fale à boca cheia.
II
Já muita gente o tem dito
De várias formas dif'rentes;
Há quem o diga entre dentes
E quem o clame num grito.
E por isso não hesito
Em repetir o chavão,
Pois qualquer ocasião
Que o assunto me suscite
É para mim um convite
P'ra fazer opinião.
III
Se alguém me diz que obedece
Ao que outros possam dizer,
Que vai deixar de fazer
Por isso o que lhe apetece,
Pois que se acaso o fizesse
E a sentença que receia
Andasse por tuta-e-meia
Nas bocas todas do mundo,
Não fora medo, no fundo,
De tudo quanto o rodeia?
IV
É que ter medo é saudável
Na conta, peso e medida,
E não ter medo da vida
Que alguém julga censurável.
Falar mal é deplorável,
É tacanhez sem visão
E afirmo com prontidão
Que tamanha mesquinhice
Não passa de parvoíce
Tenha ou não tenha razão.
Epílogo
Não faças caso, portanto,
Do que os outros te critiquem;
Não fiques tu no teu canto
Melindrado, eles que fiquem.
24/02/2016
14:48
segunda-feira, fevereiro 08, 2016
Depois de ser amor
Depois há sempre um mundo pela frente,
Um cântico de sonhos que emudece
As dúvidas, e o mundo é uma prece
Ao panteão do amor incandescente.
Depois há horizontes, outra gente,
Ruído que se instala e prevalece
Durante um escasso instante e entorpece
A lúcida ilusão de estar contente.
Não é depois que a vida se revela;
A vida é toda aqui, é toda agora,
E agora não quer medo nem cautela.
Depois de ser amor, que importa a hora,
É já o amor farol e sentinela
E bênção que se abraça e se demora.
18/12/2015
11:49
(Pela ocasião do casamento de dois queridos amigos.)
Um cântico de sonhos que emudece
As dúvidas, e o mundo é uma prece
Ao panteão do amor incandescente.
Depois há horizontes, outra gente,
Ruído que se instala e prevalece
Durante um escasso instante e entorpece
A lúcida ilusão de estar contente.
Não é depois que a vida se revela;
A vida é toda aqui, é toda agora,
E agora não quer medo nem cautela.
Depois de ser amor, que importa a hora,
É já o amor farol e sentinela
E bênção que se abraça e se demora.
18/12/2015
11:49
(Pela ocasião do casamento de dois queridos amigos.)
sábado, fevereiro 06, 2016
Sonhar além do sonho porque existo
Quem sou? Que faço aqui? P'ra onde vou?
Que forças me comandam e atordoam?
O que é esta impressão de ser quem sou?
Que seres tão distintos me povoam?
Que destino me quer aqui agora
Quando ontem nada o fazia prever?
De que é feita a tristeza que se chora
E a alegria que rimos com prazer?
Quem são todos os outros que comigo
Partilham dos mistérios de ser vivo?
Quem pensa de antemão tudo o que digo
E toma as decisões a que me esquivo?
Que imensa maravilha estar aqui,
Sonhar além do sonho porque existo:
Eu venho das perguntas que inquiri
E vou rumando às respostas que avisto.
06/02/2016
14:33
Que forças me comandam e atordoam?
O que é esta impressão de ser quem sou?
Que seres tão distintos me povoam?
Que destino me quer aqui agora
Quando ontem nada o fazia prever?
De que é feita a tristeza que se chora
E a alegria que rimos com prazer?
Quem são todos os outros que comigo
Partilham dos mistérios de ser vivo?
Quem pensa de antemão tudo o que digo
E toma as decisões a que me esquivo?
Que imensa maravilha estar aqui,
Sonhar além do sonho porque existo:
Eu venho das perguntas que inquiri
E vou rumando às respostas que avisto.
06/02/2016
14:33
domingo, janeiro 24, 2016
Sentido.
Por saber que a vida é breve
É que o meu ser se angustia
Na busca de outro sentido
No poema que se escreve,
Nos braços da melodia,
Num pensamento atrevido...
De vez em quando a razão,
Na frieza que lhe é cara,
Revela-me o que já sei:
Que ando atrás duma ilusão
E a vida não desmascara
As sombras em que eu cismei.
Pois se é na sombra que vivo
De uma luz que não conheço
Procuro dentro de mim:
Eu mesmo invento o motivo,
Que eu de tudo sou começo
Como de tudo sou fim.
23/01/2016
16:15
É que o meu ser se angustia
Na busca de outro sentido
No poema que se escreve,
Nos braços da melodia,
Num pensamento atrevido...
De vez em quando a razão,
Na frieza que lhe é cara,
Revela-me o que já sei:
Que ando atrás duma ilusão
E a vida não desmascara
As sombras em que eu cismei.
Pois se é na sombra que vivo
De uma luz que não conheço
Procuro dentro de mim:
Eu mesmo invento o motivo,
Que eu de tudo sou começo
Como de tudo sou fim.
23/01/2016
16:15
sábado, janeiro 23, 2016
Quebranto.
Quem foi que prometeu e por que lei
Nos convenceu que bastava a promessa?
Quem foi que fez da dúvida inconfessa
Certeza em que tão firme acreditei?
Quem foi que apregoou de boca cheia?
Quis com pregões matar a nossa fome?
Quem foi que deu às palavras o nome?
Seduz-me com seus cantos de sereia...
Quem foi que nos roubou ao nosso abrigo
E ao mundo nos lançou desamparados?
Quem foi que cometeu tantos pecados
E encontra a expiação no meu castigo?
23/01/2016
10:20
Nos convenceu que bastava a promessa?
Quem foi que fez da dúvida inconfessa
Certeza em que tão firme acreditei?
Quem foi que apregoou de boca cheia?
Quis com pregões matar a nossa fome?
Quem foi que deu às palavras o nome?
Seduz-me com seus cantos de sereia...
Quem foi que nos roubou ao nosso abrigo
E ao mundo nos lançou desamparados?
Quem foi que cometeu tantos pecados
E encontra a expiação no meu castigo?
23/01/2016
10:20
quarta-feira, janeiro 20, 2016
Bússola.
Abraça-me esta noite de cansaço,
De frio que me não deixa sossegar;
Um gesto é só que basta p'ra sonhar
Que vida não é mais do que esse abraço.
Ampara-me em teu colo generoso
Nesta amizade pura que nos une,
Não deixes que esta mágoa seja impune
No rosto que contorço lacrimoso.
Agarra-me estas mãos desfalecidas
E diz-me que o caminho é muito mais,
Que além dos tropeções e vendavais
Assomam-se já graças prometidas.
Afaga-me o cabelo e, por favor,
Sorri como só tu sabes sorrir;
Ensina-me a chegar após partir:
És hoje a minha bússola de amor.
20/01/2016
18:16
De frio que me não deixa sossegar;
Um gesto é só que basta p'ra sonhar
Que vida não é mais do que esse abraço.
Ampara-me em teu colo generoso
Nesta amizade pura que nos une,
Não deixes que esta mágoa seja impune
No rosto que contorço lacrimoso.
Agarra-me estas mãos desfalecidas
E diz-me que o caminho é muito mais,
Que além dos tropeções e vendavais
Assomam-se já graças prometidas.
Afaga-me o cabelo e, por favor,
Sorri como só tu sabes sorrir;
Ensina-me a chegar após partir:
És hoje a minha bússola de amor.
20/01/2016
18:16
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