domingo, abril 01, 2007

A ti, companheira.

Uma lágrima…
É tudo o que a vida nos permite quando se nos é negada.

Já chorei todas as dores que alguma vez, nalgum fugaz momento, me assaltaram quando mais desprevenido me encontrava.
Já chorei as dores que me acompanham noite e dia com maior entusiasmo do que a minha própria sombra; cada uma delas chorei já.
Já chorei as dores que quase desprezei por pequenas que eram e grandes que fazer passar se queriam.
Já chorei as dores que me atormentam periodicamente, em intervalos regulares que oscilam entre instável serenidade e frágil amargura.
Já chorei as dores que nem dores eram, mas apenas teimosia ou dissimulação.
Já chorei as dores que de certeza me esperam ao virar da próxima esquina, sedentas e implacáveis.
Já chorei até as dores que nunca tive, mas que noutros encontrei e com eles resignadamente partilhei.
Já chorei tantas dores…

Já chorei o sol que se põe e o dia que amanhece.
Já chorei a partida e a chegada.
Já chorei a paixão e a raiva.
Já chorei o sucesso e o fracasso.
Já chorei o riso e o pranto.
Já chorei as pétalas e os espinhos.

Hoje, chorei uma lágrima nova.
Hoje, a chuva que os meus olhos verteram nunca antes sulcara as planícies do meu rosto.
Provei hoje um sabor salgado que nunca tão amargo me soubera.
Ainda ontem achava que já tinha chorado tanto, e hoje vejo que nada chorei.

A lágrima que hoje derramei continha tudo o que de mim há e não há.
Tinha amor e compaixão.
Amizade, lealdade, fraternidade.
Tinha sangue e suor.
Tinha alegria e sofrimento, temperados com carinho.
Tinha terra e tinha mar.
Tinha beleza, frescura, adoração.
Tinha resplendor.
Reverência, irreverência, saudade.
Amor, saudade.
Amor.
Saudade…

Uma lágrima…
É tudo o que me resta, para além das preciosas memórias que em mim guardo com enorme estima, e desta saudade que torna o meu peito apertado e pesado.
É tudo o que me resta para libertar esta sensação de inconformidade.

Esta lágrima, hoje e sempre, é tua.
É tua.
Hoje.
E sempre…

27/03/2007
21:51

Sem comentários: