Ranger os dentes como antigamente
Penetrar-me deste olhar firme como de um punhal de cetim púrpura
Arrastar-me por corredores não mais desertos
Algemar as duas mãos num acto desesperado de libertação
Gracejar sem jeito, chicotear ao acaso, varrer de cinzento toda a imagem
Falar aos poucos e loquaz
Despertar da mecânica letargia de ontem para mergulhar na de amanhã
Subir todos os degraus a correr, na esperança de tropeçar
Destruir qualquer coisa todos os dias
Fazer amor como quem saboreia uma maçã envenenada
Planear dois atentados ao fim-de-semana para me sentir arrojado na frustração
Morder os cantos das salas de espera
Nadar como quem se afoga num lago gelado
Rejubilar só quando há um eclipse (ou um novo papa)
Tourear ao meio-dia as horas que estão para vir
Liquidificar-me na chuva e fingir que me importo
Perpetuar numa epígrafe uma lamentação prazenteira
Reler o mesmo parágrafo à luz de um candeeiro velho
Agir em conformidade contigo
Auto flagelar-me e ficar lívido ao arrancar pele das minhas costas
Adorar em segredo todas as rotinas possíveis
Meditar sem amar
Não amar por arrogância e falta de carácter
Querer fugir por uma estrada com má sinalização
Dar comigo numa berma sem pavimentação, ensopado na minha própria saudade
Vaguear com rumo bem definido
Morrer, enfim, como um herói dos tempos modernos
Renascer antes que alguém se possa enlutar
12/01/2006
23:20
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