Ouvindo estes sons desconexos e esfusiantes,
Ouvindo estas notas soltas de artefactos alienígenas,
Ouvindo vagamente o Outono na verdura meiga do crepúsculo da humanidade
Sei que todas as coisas são exactamente aquilo que julgamos que não são.
Quantos volumes terá a história da realidade?
Sete? Trinta? Mil?
Nenhum…
Apenas sussurros virtuais que nascem de uma outra realidade.
E isso é vazio. Pelo menos vazio de sentido.
Adormecemos quando nascemos e vivemos no sonambulismo crónico e inevitável que é a condição humana,
Apenas para descobrir que não existe realidade fora da ficção e da ilusão,
Num estertor abafado que não guarda rancor à impotência previsível de viver.
Floresce a orquídea que plantei anteontem no jardim das traseiras do prédio;
Na televisão, um talk-show pobremente encenado entretém a namorada;
Os pingos de chuva fazem música na vidraça velha do sótão;
Uma célula cancerosa comete suicídio por piedade ao organismo que a alberga sem saber;
Os números do totoloto apontados à pressa num papel quadrado colado na porta do frigorífico;
Um relâmpago rasga ao meio o céu e apaga todas as luzes da casa;
Uma célula cancerosa multiplica-se desenfreadamente por raiva ao organismo que a alberga menos inconscientemente do que se tenta convencer a si próprio;
…
O que significa viver?
08/11/2006
18:40
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