sexta-feira, maio 11, 2007

Retalhos de Fados

Entrego a minha voz ao coração do vento
E quanto mais água dos meus olhos corre
Mais fogo acendo
Eu não me entendo
Eu não me entendo


Por amor damos alma,
Damos corpo, damos tudo
Até cansarmos na jornada
Mas quando a vida se acaba
O que era amor, é saudade
E a vida já não é nada


A vida é toda desejos,
Marcam-se os dias com beijos,
Quem não amou, não viveu!
Só quem perde um grande amor
É que sabe dar valor
A todo bem que perdeu!


Solidão!
Que nem mesmo essa é inteira...
Há sempre uma companheira
Uma profunda amargura.


Um dia entre a memória e o esquecimento
Colhi aquele chapéu envelhecido
Soltei o pó antigo entregue ao vento
Lembrando aquele sorriso prometido
As abas tinham vincos mal traçados
Marcados pelas penas ressequidas
As curvas eram restos enfeitados
De um corte de paixões então vividas


Bem pensado
Todos temos nosso fado
E quem nasce malfadado,
Melhor fado não terá!
Fado é sorte
E do berço até a morte,
Ninguém foge, por mais forte
Ao destino que Deus dá!


Fecho os meus olhos e canto
E canto só para ti
Derramo a voz e o pranto
Que te canta como eu canto
É por ti e só por ti


E condenaram-me a tanto,
Viver comigo meu pranto,
Viver, viver e sem ti.
Vivendo sem no entanto,
Eu me esquecer desse encanto,
Que nesse dia perdi.


P'ra que não façam pouco
Procuro não gritar
A quem pergunta minto
Não quero que tenham dó
Num egoísmo louco
Eu chego a desejar
Que sintas o que sinto
Quando me sinto só.


E por ti já gastei o pensamento
Ai amor, ai amor, se o tempo
Já gastou, já gastou o nosso tempo
Eu não me entendo
Eu não me entendo
Eu não me entendo...


("Eu não me entendo"; "Duas lágrimas de orvalho"; "Fado Eugénia Câmara"; "Grito"; "Memórias de um chapéu"; "Fado de cada um"; "Por ti"; "Primavera"; "Quando me sinto só".)

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